quinta-feira, 25 de setembro de 2014

As Amazonas

Os pássaros parecem voar com mais alegria. O verde cativante emoldura um bordado de águas mágicas. O céu reflete um azul misterioso, dando intenso brilho num cenário único e encantador. Assim vejo a foz do Rio Nhamundá na Amazônia. Esta ímpar paragem abrigou por várias gerações uma tribo, ramificada ao longo do rio, formada por lindas mulheres guerreiras descritas por Frei Gaspar de Carvajal com estas palavras:
“São muito alvas e altas, com o cabelo muito comprido, entrançado e enrolado na cabeça. São muitos membrudas e andam nuas em pelo, tapadas as suas vergonhas, com os seus arcos e flechas nas mãos, fazendo tanta guerra como dez índios”.
Esta narração teve grande repercussão na Europa e noutros continentes, sobre esta tribo de belas e valentes nativas.
Icamiabas guerreiras do Nhamudá
Icamiabas guerreiras do Nhamudá
Em 1541, o aventureiro e explorador espanhol, Francisco de Orellana foi o primeiro navegador a completar o trecho desde os Andes até o Oceano Atlântico. A cada região que a expedição passava, deparava-se com encantos e surpresas. Navegavam pelo Mar Dulce (nome dado ao Rio Amazonas por Vicente Yáñez Pinzon). O explorador Pinzon, que participou da primeira expedição de Cristovam Colombo, descobrindo em 1492 a América, não navegou por completo o Rio Amazonas. No momento que Orellana vislumbrava uma das mais encantadoras paisagens, foi surpreendido com um fulminante ataque por uma tribo de mulheres às margens do Rio Nhamundá, que lançavam flechas e dardos de zarabatanas, aprisionando Orellana. Houve confronto e mortes, flechas voam contra os barcos, acertando inclusive nosso cronista que morreria caolho.  Porém a comitiva de Orellana, depois de perder a metade da tripulação no confronto, conseguiu fugir levando alguns índios aprisionados. Estes índios, que serviam às mulheres, foram longamente interrogados, relatando os costumes, o modo de vida daquela tribo e as tradições das guerreiras. Informou também que existiam setenta aldeias das valentes índias ao longo do Rio Nhamundá. Rio de las Amazonas (Rio das Amazonas) foi assim batizado por Orellana, comparando com as Amazonas da mitologia grega. Hoje, o Rio Amazonas, o maior rio do mundo, é referência do planeta Terra, e o mito das Amazonas continua vivo nas nossas lembranças culturais.
Guerreiras Gregas e Guerreiras Indígenas
Guerreiras Gregas e Guerreiras Indígenas
As índias Amazonas, guerreiras do Nhamundá, eram altas, esbeltas, formosas, ágeis e corajosas. Moravam em casas edificadas em pedra, com portas e portões resistentes, tais como fortalezas. Manuseavam com extrema habilidade o arco e a flecha, protegendo seu povo com muita coragem e determinação. Não tinham maridos e viviam isoladas de homens. Raptavam machos nas tribos vizinhas para acasalamento, ficando com estes trabalhando em serviços pesados, até terem certeza de que estavam prenhas. Os filhos do sexo masculino ficavam em suas companhias durante o período de amamentação, sendo levados posteriormente para a aldeia do pai. Ficavam com as filhas fêmeas, as quais eram educadas no regime das Amazonas. Desde criança, o seio do lado direito das meninas era atrofiado com queima e outros processos que elas desenvolveram, para facilitar o manuseio do arco e flecha. Montavam em potros bravos, amansavam cavalos do mato com destreza para as lidas diárias e fiscalização dos seus territórios. Elas mantinham suas aldeias com muito trabalho e garimpagem de ouro e prata.
O significado do termo amazona é incerto, entre as principais hipóteses, estaria uma provável derivação do gentílico iraniano *ha-mazan-, que significaria originalmente "guerreiras". Já outra teoria diz que o termo significa "sem seio", em grego, já que, segundo algumas versões do mito, as amazonas cortavam um dos seios para melhor manejar os arcos.
O significado do termo amazona é incerto, entre as principais hipóteses, estaria uma provável derivação do gentílico iraniano *ha-mazan-, que significaria originalmente “guerreiras”. Já outra teoria diz que o termo significa “sem seio”, em grego, já que, segundo algumas versões do mito, as amazonas cortavam um dos seios para melhor manejar os arcos.
A Lua era a Deusa e protetora das Amazonas.  O dia de lua cheia era intensamente festejado, com danças, cânticos e oferendas. As filhas de Jaci coroavam-se de flores e, num ritual místico, antes da lua atingir o ponto mais alto, conduziam potes com perfumes e derramavam no lago como gesto de purificação. Consideravam o lago como sagrado e espelho da lua. Quando a lua atingia o ponto mais alto no espaço, elas festejavam e mergulhavam no fundo do lago, trazendo um barro esverdeado. Moldavam essa argila, dando formas variadas, entre elas: rãs, peixes e tartarugas. A escultura tornava-se um amuleto, com interessantes formas, muito resistente, denominado muiraquitã. Penduravam no pescoço, certas da energia contra moléstias, desgraças e influências negativas.
O rio Nhamundá, com seu lindo espelho d'água.
O rio Nhamundá, com seu lindo espelho d’água.
Hoje, o Rio Nhamundá continua com o mesmo encanto, com a rara beleza do lugar, que um dia teve o privilégio de abrigar as formosas e encantadoras índias chamadas de Amazonas.
Autor: Carlos Antônio

O lado B da Lenda das Amazonas

O relato chegou á Espanha e deixou á todos de queixos caídos. Anos depois, seguindo a expedição do português Pedro Teixeira, o padre Cristóbal de Acuña (1638-1639) faz o mesmo trajeto e ainda procura pelas míticas amazonas. Walter Rayleigh (1617), corsário inglês, viajará ao Orinoco á procura de seu reino e até o cientista francês La Condamineau (1743-1744) se perguntará onde estão as mulheres guerreiras, assim como seu colega cientista Alexander Von Humboldt (1799-1804).
É possível que elas existiram? Se sim, o que aconteceu com elas? Muitos se dedicaram á responde essa questão. Alguns encontram na tradição tupi, as amazonas na forma das icamiabas, mulheres que não concordaram com as leis propostas pelo herói-reformador Jurupari para sujeitar á mulher ao homem.
Amazona ensinando a filha a atirar com arco e flecha
Amazona ensinando a filha a atirar com arco e flecha
Em muitas etnias amazônicas, a mulher tem um papel importante, substituindo o homem em certas funções como a caça e a pesca. No entanto, notícias sobre uma tribo feito somente por mulheres guerreiras ficaram restritas ao período colonial. Pesquisadores encontraram outro nome para elas: Icamiabas ou “mulheres sem maridos”. Icamiaba também era o nome de um morro no Equador, mas verificou-se que ali não habitavam mulheres guerreiras.
Amazona tomando banho na lua cheia
Amazona tomando banho na lua cheia
Terá Carvajal inventado tudo isso? Essa é outra hipótese. No relato do frade aparecem menções á gigantes, assim como nos relatos posteriores também surgiram as figuras de monstros acéfalos, dragões, sereias, etc. O historiador Auxiliomar Ugarte trabalha com a hipótese de que a consciência do fabuloso e a perspectiva de explorar algo totalmente novo tenha confundido e muito seus primeiros exploradores.
Afinal, estamos falando de homens que ainda conviviam com um imaginário medieval, um imaginário fantástico. Carvajal interpreta esse novo mundo segundo o referencial de sua cultura. O historiador Antônio Porro acredita que Carvajal tenha confundido um povo, os Conduris, com as mulheres guerreiras, por causa de suas feições físicas e da região que então habitavam.
Icamiabas tomando banho de cachoeira
Icamiabas tomando banho de cachoeira
As amazonas são parte, uma das mais importantes, do imaginário construído sobre a região. Um imaginário que enxerga nessa região tão enigmática e desafiadora ora o paraíso ora o inferno. Um imaginário que se modifica com os séculos, mas que mantém um certo traço essencial: a de uma natureza exuberante convivendo com um povo “selvagem” ou “inferior”.
Guerreiras Icamiabas
Guerreiras Icamiabas

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