O crescimento econômico e demográfico, principalmente nos países emergentes, provocará nas próximas décadas um forte incremento na demanda de água e energia, com risco de esgotamento dos recursos do planeta, adverte a ONU nesta sexta-feira (21).
O consumo de água e de energia estão estreitamente ligados, destaca a UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) em um relatório sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos no Mundo, publicado na véspera do Dia Mundial da Água.
"A produção energética representa quase 15% das extrações de água, e a tendência é de alta", já que 90% da produção de energia mundial utiliza importantes volumes de água, destaca o documento.
Diante disto, o acesso à água corrente e à eletricidade de centenas de milhões de pessoas gera enormes desafios, tendo em conta que "20% dos aquíferos do planeta estão superexplorados", adverte a UNESCO.
Segundo as previsões, a demanda por eletricidade crescerá 70% até 2035 e mais da metade deste crescimento se produzirá na China e na Índia.
"A demanda por água doce e energia seguirá aumentando nas próximas décadas para atender às necessidades das populações e das economias em crescimento e as mudanças de estilo de vida e de consumo, amplificando de forma importante as pressões sobre os recursos naturais limitados e os ecossistemas", destaca o documento, apresentado em Tóquio.
Atualmente, 768 milhões de pessoas carecem de acesso seguro e regular à água, mais de 1,3 bilhão vivem sem eletricidade e quase 2,6 bilhões utilizam combustíveis sólidos - biomassa em particular - para cozinhar.
O relatório prevê um aumento de 55% na demanda de água nos próximos 35 anos. "Em 2050, 2.300 milhões viverão em zonas submetidas a um estresse hídrico severo, em particular no Norte da África e na Ásia Central e do Sul".
Tensões geopolíticas
Na Ásia, a questão da água deverá provocar um aumento considerável das tensões políticas, já que os mananciais dos rios geralmente ficam nas fronteiras.
Na Ásia, a questão da água deverá provocar um aumento considerável das tensões políticas, já que os mananciais dos rios geralmente ficam nas fronteiras.
"As zonas de conflito incluem o Mar de Aral e as bacias do Ganges e do Brahmaputra, do Indus e do Mekong", destaca a ONU.
A demanda energética aumentará em mais de um terço até 2035, e mais da metade deste aumento ocorrerá na China, Índia e Oriente Médio.
Em relação à água consumida pelo setor energético, passará de 66 bilhões de metros cúbicos de água doce em 2010 para quase o dobro (+85%) em 2035.
A busca de alternativas energéticas - como os biocombustíveis - exige igualmente o uso de enormes volumes de água.
"Desde o início dos anos 2000 são desenvolvidos cultivos agrícolas em grande escala para a produção de biocombustíveis, que consomem enormes volumes de água".
"A exploração do gás de xisto também registrou uma grande expansão nos últimos anos, em particular nos Estados Unidos, mas esta energia fóssil só pode ser extraída por fratura hidráulica, um método que exige grandes volumes de água e comporta riscos importantes de contaminação dos lençóis freáticos".
"A energia hidroelétrica cobre hoje 16% das necessidades energéticas do mundo" e há um grande potencial de construção de represas na América Latina, em particular no Brasil e na África, mas estas obras também representam desafios.
"A construção das represas para se produzir hidroeletricidade tem um custo social e ambiental considerável, especialmente porque reduz a biodiversidade".
As energias eólica e solar, que consomem muito pouca água, "estão ganhando terreno', mas "proporcionam um serviço intermitente que deve ser complementado por outras fontes de energia".
Além disso, as energias renováveis não poderão desempenhar um papel de verdadeira alternativa enquanto as energias fósseis (petróleo, gás, carvão) receberem fortes subsídios, conclui a UNESCO.
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