O maior entusiasta da turma? O jovem Schinda Uchôa, à época com apenas 16 anos. Ele se juntou aos amigos Edgard Garcia Lobão, Raymundo Vieira, França Marinho, Leopoldo Neves, Basílio Falcão, Paulo Nascimento, João Falcão, Ascendino Bastos, Afonso Nogueira e o não menos importante Manoel Afonso do Nascimento, o Carranza, que ofereceu a própria casa para ser a primeira sede do clube, localizada à época na Rua Henrique Martins.
A eleição, aliás, se deu na própria casa de Carranza. Por dez votos a um batizaram a nova entidade como Atlético Rio Negro Clube, uma homenagem ao rio que banha a capital amazonense – e porque todos queriam um nome que fosse bem bairrista.
Presidente
No mesmo dia, Edgard Garcia Lobão foi eleito e eternizado como o primeiro presidente do clube. E, para celebrar a fundação, um gesto que se tornaria um dos maiores símbolos do jeito rionegrino de ser: um brinde com vinho do Porto, o famoso ritual que ficou conhecido como “Porto de Honra”, usado até os dias de hoje para celebrar o aniversário do “mais querido da cidade”.
O ‘manto’ da discórdia
Pouca gente sabe, mas nem sempre o Rio Negro foi o time “Barriga-Preta” como é conhecido nos dias de hoje. O primeiro uniforme do clube, escolhido ainda na reunião de fundação, tinha calção e camisa branca com o colarinho preto. Este uniforme, porém, teve que ser modificado, já que se parecia muito com o então “co-irmão” Nacional, que se tornaria num futuro não muito distante o seu maior rival .
No dia 15 de janeiro de 1914 veio a mudança do uniforme. Por sugestão de Schinda Uchôa, a camisa passou a ser branca com listras pretas verticais, com calção preto. Na verdade, Schinda “copiou” o uniforme de um certo Botafogo que conheceu quando visitou a Cidade Maravilhosa.
Muda de novo
Só que ainda não foi desta vez que o Rio Negro consolidou a sua “identidade visual”. Segundo narrou Manoel Bastos Lira em seu livro, em 1917, o então presidente Lauro Cavalcante, um irremediável supersticioso, como descreveu o autor, decidiu propor a mudança do uniforme. Ele achava que o estilo “Botafogo de ser” não trazia muita sorte ao clube amazonense, assim como não trazia ao próprio Botafogo. No caso do Rio Negro, o clube já existia há quatro anos e nada de títulos. O jeito foi mudar.
Em Assembleia Geral os associados “compraram” a ideia do presidente e mudaram o uniforme, quer dizer, apenas a camisa. O calção continuou preto, já a camisa, passou a ser branca com uma faixa preta na altura da barriga carregando ao centro o escudo do clube. Nascia a lenda do “Barriga-Preta”.
Apesar das superstições do cartola, vale lembrar que a mudança do “manto” rionegrino não trouxe assim tanta “sorte” de imediato. O clube ainda levaria mais quatro anos para erguer a sua primeira taça, no Campeonato Amazonense de 1921. Era apenas o início de uma história que ainda rendeu outros 17 títulos de campeão estadual. O último conquistado em 2001.
Em cima de um cemitério
“A sede do Rio Negro foi construída em cima de onde funcionava o cemitério São José. Toda aquela área de onde hoje fica o clube até a Praça da Saudade era um grande cemitério”, recorda o professor Francisco, que afirma que a remoção do cemitério se deu por um motivo puramente estético. “Na época achavam que o cemitério ali, na região central da cidade, acabava enfeiando Manaus, por isso decidiram inaugurar um novo cemitério, o São João Batista”, relata. Um ossuário foi construído no novo campo santo e os restos mortais foram transportados pra lá.
Por se tratar de um terreno onde existia um cemitério, é possível dizer que não houve um grande interesse imobiliário no local. Assim, a prefeitura construiu a Praça da Saudade e doou o resto do terreno para que ali fosse construída a sede do clube a pedido dos rionegrinos. A doação foi sacramentada pelo então prefeito Antonio Maia no dia 22 de maio de 1938, segundo relatos do livro “Sete Décadas de Barriga-Preta”.
A partir daí, a sede começou a ser construída com recursos dos próprios rionegrinos. Os mais endinheirados doaram somas mais generosas. Os mais humildes também deram sua colaboração, seja em dinheiro ou mão de obra. O palácio que se tornou um dos símbolos da Belle Époque baré e, como não poderia deixar de ser, foi assinada pelo engenheiro-arquiteto e evidentemente rionegrino, Aluisio de Araújo, que não cobrou absolutamente nada pelo projeto. Aluisio, aliás, apenas deu o pontapé inicial nas obras do clube e logo teve que deixar a cidade para trabalhar na construção do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.
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