terça-feira, 13 de maio de 2014

Queimada na Amazônia tem impacto mais severo na seca, aponta estudo

Área da floresta amazônica que ficou degradada após incêndio experimental feito no Mato Grosso (Foto: Divulgação/Paulo Brando)Área da floresta amazônica que ficou degradada após incêndio experimental feito no Mato Grosso (Foto: Divulgação/Paulo Brando)
Um estudo internacional realizado ao longo de oito anos na Amazônia identificou que a floresta é severamente afetada por queimadas em anos de seca, que podem causar uma degradação permanente no bioma.
Os dados, publicados nesta segunda-feira (14) pela revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a PNAS, sugerem que é preciso maior atenção para o controle de queimadas na região, principalmente se as temperaturas estiverem altas.
Conduzida por um brasileiro, a pesquisa foi feita na região do Alto Xingu, no Mato Grosso, em um trecho de floresta que foi queimado repetidamente durante o período estudado.
Imagem mostra momento em que incêndio acontece em área de transição entre o Cerrado e a Amazônia, na região de Mato Grosso (Foto: Divulgação/Paulo Brando)Imagem mostra momento em que incêndio acontece
em área de transição entre o Cerrado e a Amazônia,
na região de Mato Grosso
(Foto: Divulgação/Paulo Brando)
Com a ajuda de imagens de satélites, os cientistas analisaram o impacto do incêndio na vegetação e constataram que quando a temperatura estava acima da média e houve redução de chuvas, houve acentuada mortalidade de árvores.
Paulo Brando, doutor em Ecologia Interdisciplinar pela Universidade da Flórida e pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, o Ipam, é o autor principal do artigo.
Ele explica que a maior perda de vegetação, um total de 12% da área analisada – equivalente a um milhão de campos de futebol – ocorreu em 2007, quando a temperatura na região de MT ficou 2,5ºC acima da média e o volume de chuvas caiu 20%.
“O processo de degradação foi muito abrupto, a degradação foi severa e permitiu a entrada de gramíneas exóticas”, explicou Brando.
Manejo sustentável
Devido ao calor excessivo, o solo fica mais seco e as árvores não conseguem absorver água suficiente para se manterem vivas. Para ficarem mais leves e absorverem menos líquido, elas liberam folhas e galhos. Ao fazerem isto, soltam no chão material combustível para as queimadas – que são causadas pelo homem, seja de forma proposital ou acidental.
"A seca é muito difícil de manejarmos, mas temos que diminuir o risco de incêncios. Por isso, é preciso incentivar melhores práticas agrícolas, aumentar a fiscalização e organizar brigadas de incêndios entre fazendeiros e indígenas", explica Brando.
Outro ponto citado por ele é a importância de evitar o desflorestamento, no intuito de não permitir a existência de fragmentos de floresta, mais vulneráveis a queimadas por serem mais quentes em comparação com o interior da floresta.

Nova realidade
Segundo previsão do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC, o excesso de gases de efeito estufa na atmosfera, como o CO2, pode elevar a temperatura em determinados pontos da floresta, como o sul e leste amazônicos, que ficariam mais suscetíveis a incêndios e processos críticos de degradação.
Por isso, o estudo destaca também a necessidade de incluir as interações entre os eventos climáticos extremos e o fogo, "na tentativa de prever o futuro da floresta na nova realidade do clima".

Incêndios no Brasil
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 2013 o Brasil registrou 115.484 focos de incêndio. Pará, Mato Grosso e Maranhão registraram mais queimadas.
As razões variam desde limpeza de pastos, preparo de plantios, desmatamentos e colheita agrícola, disputas por terras e protestos sociais.
A instituição aponta que o fogo prejudica a fauna e a flora nativas, causam empobrecimento do solo e reduzem a penetração de água no subsolo, além de gerar poluição atmosférica com prejuízos à saúde de milhões de pessoas e à aviação.
Denúncias de incêndios criminosos podem ser feitas ao Corpo de Bombeiros, às prefeituras, às secretarias estaduais do Meio Ambiente e ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

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